O que fazemos gera consequências: os conceitos de reforço e punição 30/08/2023 Psicologia e Análise do Comportamento O que fazemos gera consequências: os conceitos de reforço e punição Compartilhar:

Entender os motivos pelos quais nós nos comportamos é algo sensacional! Ao conseguirmos isso, passamos a nos conhecer melhor, a entender mais como o mundo funciona e, especialmente, enxergamos a como podemos agir para aumentar a nossa qualidade de vida e melhorar a vida dos outros.

Existem muitas formas de buscar entender o comportamento humano. Mas, aqui vocês já sabem, vamos utilizar os princípios da Análise do Comportamento.

Calma! A ideia não é te encher de conceitos difíceis. Mas, pedimos sua paciência para falarmos de apenas dois termos: reforço e punição. "Simbora"?


Está sem tempo para ler? Assista ao nosso vídeo sobre o assunto clicando aqui.


Imagine que quando fazemos algo, seja uma ação que todos podem ver ou até mesmo quando estamos sozinhos, existem consequências que acontecem em resposta a isso. O que chamamos de consequências são mudanças/alterações/efeitos que suas ações produzem no mundo. Por exemplo: ao chegar em um local escuro, você pode apertar o botão do interruptor; ao fazer isso, a luz acende. A luz acesa é uma mudança que sua ação produziu; é um efeito de apertar o interruptor, sacou?!

Essas consequências podem fazer com que a gente queira repetir esse comportamento mais vezes, ou podem fazer com que a gente evite repetir o comportamento. De forma geral, essas consequências são divididas (na Análise do Comportamento =P) em dois tipos: reforços e punições.

Agora, vamos pensar um pouquinho nesses dois nomes: quando você vê a palavra "reforço", o que você imagina? Muito provavelmente, você deve pensar em algo relacionado a fortalecer, ficar mais forte, mais resistente etc. Ei! Se você pensou em reforço escolar, não se desespere. Tem até a mesma lógica: fortalecer o conteúdo que está fraco. Ok?! Então, guarde essa relação: reforço tem a ver com fortalecimento!

Quando você vê a palavra "punição", o que você imagina? É possível que seja algo como uma bronca, uma tortura (socorro)… algo que machuque. Certo? Agora, vamos continuar nosso raciocínio: quais são as chances de uma pessoa querer ser punida? Provavelmente, muito pequenas. Então, punição parece ser algo que enfraquece a tendência da pessoa repetir aquilo que a pessoa fez.

Agora nós estamos em condições adequadas para entender o que é reforço e o que é punição! Reforços são mudanças no mundo causadas pelas ações de uma pessoa que fortalecem essas ações, as tornam mais prováveis de voltar a acontecer. Já quando falamos de punições, nos referimos a mudanças no mundo causadas pelas ações de uma pessoa que enfraquecem essas ações, as tornam menos prováveis de voltar a acontecer.

Show de bola, não é?! Com essa noção, conseguimos entender que aquilo que as pessoas fazem ou deixam de fazer depende muito das consequências produzidas ao longo da vida. Se uma pessoa faz algo constantemente, essas ações estão, muito provavelmente, sob o efeito de consequências reforçadoras. Se uma pessoa deixa de fazer algo ou começa a diminuir o que fazia, essas ações estão, muito provavelmente, sob efeito de consequências punidoras.

Por exemplo, se uma criança faz birra, ela pode ganhar a atenção dos pais, o que a incentiva a fazer birra de novo no futuro. Isso é um exemplo de reforço. Por outro lado, se um colega de escola bate em alguém e leva um sermão do professor, ele provavelmente vai evitar bater em alguém novamente para não receber o sermão. Isso é um exemplo de punição.

Contudo, é importante também entender que nem sempre é tão simples. Nem tudo que parece bom pode ser chamado de reforço e nem tudo que parece ruim pode ser chamado de punição.

Se perdeu? Calma e a gente te ajuda!

Pensa na seguinte situação: um casal (composto por P1 e P2) vai para a terapia com a queixa de brigas e discussões constantes. Para entender um pouco sobre a dinâmica do casal, o terapeuta pergunta sobre como é a rotina deles. Prontamente, P1 começa a dizer que trabalha o dia todo, saindo muito cedo e voltando ao final da tarde, extremamente cansado. Em seguida, P2 relata que trabalha somente pela manhã e que chega perto das 12h00 em casa, mas nunca sai e dificilmente conversa com amigos ou familiares. As brigas e discussões ocorrem durante a noite, após P1 chegar em casa. O terapeuta, então, pede para que o casal exemplifique essas brigas. P1 começa a dizer que, algum tempo depois que ele chega, P2 começa a demandar atenção, pedindo para conversar, para ficar junto, para assistir algo etc. P1, por estar muito cansado, diz que quer ficar em seu canto, mas P2 insiste. Assim, P1 acaba "perdendo a cabeça" e brigando com P2 durante horas. Geralmente, o casal vai dormir após a briga. Essas brigas têm aumentado ao longo do tempo.

E aí? Pensando que P1 começar a brigar com P2 é uma consequência para a demanda por atenção, isso representa uma punição ou um reforço? Sabe qual é a dica para responder? Avaliar, sempre, o que aconteceu com as ações que produziram a consequência. Se elas continuaram, a consequência foi um reforço. Se elas pararam, a consequência foi uma punição.

Nesse exemplo, portanto, a briga/discussão/fala de P1 funcionou como um reforço! Mas como assim? Prestem atenção ao contexto dessa relação: o casal tem poucas interações ao longo do dia. P2 passa metade do dia em casa e quase não mantém interações com outras pessoas, entrando, provavelmente, em um estado de privação de atenção. Quando P1 chega em casa, P2 começa a demandar atenção. P1 ignora. Quando P2 insiste, P1 começa a brigar. Mesmo que seja uma briga, P1 está interagindo com P2, ou seja, está em um processo de atenção destinado a P2. Nessas condições, P1 brigar com P2 pode manter o comportamento de demanda de atenção. O problema é que há uma série de comportamentos inadequados e efeitos desprazerosos presentes nessa interação. Mas, isso é tarefa para o terapeuta. Aqui, nós só precisávamos ver como um reforço não precisa ser, necessariamente, algo que definimos como bom. Interessante não?

O inverso também é verdadeiro! Imagine que um adolescente está em sala de aula e levanta a mão para fazer uma pergunta ao professor. Após a pergunta o professor o elogia muito. Depois desse dia, ele nunca mais fez perguntas durante a aula desse professor.

E aí? Pensando que perguntar é uma ação e o elogio é uma consequência, isso representa uma punição ou um reforço? Você já sabe o que precisa analisar.

Os elogios funcionaram como uma punição. Afinal, após isso, o menino nunca mais perguntou. Eventualmente, o menino pode ter se sentido muito envergonhado ao ser elogiado em frente aos colegas e, assim, essa consequência produziu tanto sensações ruins quanto a redução do comportamento que a produziu (o perguntar).

Nosso comportamento é uma caixinha de surpresas, né?! Mas, agora, você está muito mais bem preparado para entender os motivos pelos quais você faz o que faz. Só falta colocar em prática essas análises.

Ah! E você viu que não precisa ter medo desses conceitos da Análise do Comportamento? Basta acharmos uma forma de traduzi-los para o que enxergamos no dia a dia.

Em resumo, a maneira como reagimos ao que acontece depois do que fazemos pode afetar o nosso comportamento, nos fazendo querer fazer algo de novo ou evitá-lo. Isso é importante tanto em situações simples do dia a dia quanto em situações mais complicadas, como em relacionamentos ou na escola.


André Connor De Méo Luiz - Doutor em Análise do Comportamento. Coordenador Acadêmico do Instituto Continuum.